Luísa finalmente havia voltado para a casa de sua avó depois de tanto tempo (sete anos para ser mais exata). Morava no interior e, por isso, era difícil visitar com frequência alguém que reside num litoral tão longe, ainda mais com a família complicada que tinha da qual detestava viajar e só sabia brigar.
Assim que chegou com a mala para passar duas semanas (mas que daria para dois meses) avistou alguém do outro lado da rua, no segundo andar olhando da janela, um garoto misterioso, porém não era estranho. Loiro, forte e de olhos expressivos. Quem era? Quis perguntar para a avó, mas não queria parecer uma atirada, nem demonstrar seu estranho interesse pelo menino desconhecido.
Depois de tomar o café da tarde, e arrumar todas as roupas no quarto, Luísa foi para a rua, em direção à sorveteria que havia lá perto. Com passos silenciosos e discretos, a última coisa que queria era ser notada pelo irmão e ser seguida por ele, queria mesmo era chamar atenção de outra pessoa, que nesse instante não estava em nenhum lugar a sua vista.
O caminho estava deserto e tranquilo. Teve uma sensação de perseguição, mas toda vez que olhava para trás não via nada. Finalmente chegou a sorveteria, que não era tão longe por sinal. Pediu seu sorvete e foi ao banheiro dar uma ajeitada no cabelo enquanto esperava ficar pronto. Assim que ficou, ela pagou e continuou trocando algumas palavras com a mulher do caixa que puxou assunto. No entanto, pobre Luísa desajeitada, não viu que havia alguém parado atrás dela quando virou com tudo e deu uma bela duma sorvetada na camisa do rapaz e, para completar, esse era o mesmo de mais cedo, que ficou encarando no portão da avó.
Desculpa era a única palavra que sabia dizer. Também, depois dessa falaria o que? Ele riu. Não uma risada longa, uma simpática, demonstrando estar tudo bem, mas isso não curava a vergonha que Luísa sentia (e a vontade de se enfiar no primeiro buraco).
Depois de limpá-lo com alguns guardanapos em cima da mesa, ele pagou outro sorvete pra ela e começaram a conversar, sentados nos banquinhos de cimento que haviam do lado de fora da sorveteria. Finalmente ela o reconhecera, era Felipe, seu amigo de infância cujo brincava todo dia quando passava longos verões na casa da avó, e pelo visto esse não seria diferente pela intimidade da conversa.
E foi assim que aquela antiga amizade acendeu novamente. Passaram muito tempo juntos, mais que o normal quando crianças. Depois de sete anos sem vê-lo, era impossível reconhecer. Felipe não tinha mais aquele rostinho redondo e esquisito, sem expressão - e sobrancelha. Agora era alto, forte (não tanto) e até mais legal, porém aquele jeito tímido e misterioso, que sempre foi seu charme, continuara o mesmo.
Após muitos beijos em frente ao mar, e longos tempos juntos, com carinhos e muito amor, podia dizer-se já que eram namorados, tirando o fato de que Luísa iria embora dali um dia. Era um amor tão forte, tão intenso, ia muito além de paixão e beijos quentes. Os dois estavam realmente apaixonados. Ela decidiu se entregar, e ele também.
A volta para casa no interior foi triste para a garota que faria dezoito anos em fevereiro. Eles continuaram se falando por mais dois meses por telefone e cartas (era mais romântico), mas não adiantava nada, pois Felipe ainda morava muito longe, e continuar falando com ele, dessa forma, só iria iludi-lo. Por isso, excluiu-o de todas as redes sociais e parou de responder suas cartas, e atender aos telefonemas.
Já estava no segundo semestre do ano letivo na faculdade, Luísa fazia odontologia e se esforçava muito. Dividia uma apartamento com a amiga já que o campus ficava em outra cidade. Um dia, enquanto corria para chegar na aula, pois estava atrasada, trombou com alguém em sua frente. Reconheceu o rosto mesmo com o sol vindo da mesma direção. Eles se abraçaram por um longo tempo e ela perguntou o que ele fazia lá, Felipe respondeu:
- Finalmente consegui transferência na minha faculdade. Agora estarei perto de você, para sempre.
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