segunda-feira, outubro 15, 2012

Quanto vale o seu fora?

    Henrique era o tipo de pessoa que qualquer menina sonhava para ser seu namorado: era bonito, inteligente, com um cabelo castanho claro cheio de cachos, um sorriso suspirante, educado e ainda por cima tocava violão, que mãe não iria querer um desses como genro? E o melhor de tudo, ele realmente estava gostando de Isa.
    Ela o viu pela primeira vez no shopping, na fila do cinema, ele estava apenas com um amigo. Foi amor a primeira vista, não parava de olha-lo e queria toda hora ficar perto dele para chamar atenção. Isso nunca havia acontecido antes, se apaixonar por um estranho completo.
    Há quem pensava que aquela paixão só duraria um dia, mas pelo contrário, ele foi tudo que permaneceu em sua mente. Não teve um dia que em Isa não lembrou daquele sorriso, e sorriu sozinha, lembrou do cabelo e ficou imaginado ela acariciando ele. Se aquilo não fosse amor platônico, então só poderia ser bruxaria, e das fortes! Daria de tudo para descobrir pelo menos o primeiro nome, isso já seria o suficiente.
    Por ironia do destino, quando foi numa excursão em outra cidade, lá viu ele com o uniforme de uma escola da sua própria cidade, e vários amigos juntos, inclusive um que ela conhecia. Bastou isso para chegar em casa correndo e procurar esse tal amigo na rede social. Quando encontrou, olhou todas as fotos. "Achei" disse ela animada para a amiga no telefone, talvez nunca ficou tão feliz assim na vida.
    Eles começara a trocar emails, toda noite após chegar da escola, Henrique já era um vício que ela não pensava em desistir. Em algumas semanas se conheceram pessoalmente e até se beijaram. Outro dia ela foi em sua casa ouvi-lo tocar violão e logo conheceu toda sua família. Aquilo já seria um namoro?
    Isa já estava ficando chata, vivia em função dele e esqueceu de si própria. Às vezes ele demorava muito para lhe responder nos emails ou mensagens de texto durante a aula, às vezes ele nem respondia. Ela ficava chateada, é claro, mas ao mesmo tempo ele dizia que gostava dela, e quando ela dava aquele gelo, ele vinha atrás. Então, em sua cabeça, estava tudo bem.
    Num dia qualquer, onde já estavam juntos há quase dois meses, Henrique chamou-a para ir à sorveteria mais sofisticada da cidade. É claro que aceitou, com todo o coração disse que iria. Ninguém em sua casa nunca a viu se arrumar tanto, e tão contente. Colocou o vestido florido mais bonito, com sapatilha rosa clara combinando e o colar da sorte com pingente de coração de ouro. A maquiagem estava bem natural, não queria parecer muito carregada bem no dia em que seria pedida em namoro. Ainda bem que o cabelo cooperou e ficou lindo, todo cacheado, do jeito que seu futuro namorado dizia que amava nela.
    O caminho até ao lugar parecia longo, ela estava ansiosa com o coração disparado. Chegando lá, assim que o encontrou eles se abraçaram. Era engraçado estar tão próxima de uma pessoa desse jeito há quase dois meses, mas ao mesmo tempo sem nunca dizer que o amava. Era tanto amor que ela tinha medo de dizer o que sentia.
    Passaram horas e horas lá conversando, com aquela química que só os dois sentiam. Como havia assunto! Pessoas chegavam, pessoas saíam, e eles permaneciam lá, cada um pagou seu sorvete (caro por sinal) e assim foi a tarde toda. Na hora de ir embora, ele finalmente disse a frase mágica acompanhada daquela expressão enigmática "preciso te falar uma coisa importante". Foi o suficiente para ela entender o que aconteceu na viagem que ele fez com os amigos no último fim de semana.
    A carona já estava vindo, só que não chegava logo para ela sumir dali. Não queria que ele percebesse os olhos cheios de lágrimas, mas ela disfarçou ao máximo. "Precisamos terminar" não parecia um pedido de namoro, ainda mais numa sorveteria, com a desculpa de que precisava estudar para o vestibular, mas foi o que ela escutou, e escutou lúcida. Finalmente o carro chegou e ela se foi, deixando lembranças naquele local juntas de um ser tão idiota a ponto de chamá-la a um encontro para terminar. Pelo menos ela aprendeu a não pagar para levar um fora.


Nenhum comentário:

Postar um comentário