domingo, novembro 11, 2012

Dias cinzentos

    Estava frio lá fora, céu nublado e muita coisa para resolver... ou pensar. Nem sabia mais que dia da semana era, nem mesmo a hora, estava ocupada demais tentando me concentrar naqueles trabalhos acadêmicos intermináveis e também em como te esquecer.
    O dia não estava com cara de verão, mesma época que nos conhecemos e me apaixonei, há três anos atrás. Lembra de como você estava engraçado em seu primeiro dia de aula na escola nova, todo mundo estranho te olhando, todas as meninas encantadas e justo ao lado de quem você sentou (por escolha da professora)? Da menina taxada de nerd, cujo os óculos eram maiores que o rosto, menores que apenas sua timidez. Para ser mais específica, eu. Mesmo assim você foi legal, conversava com todos como se já fosse o "mais popular do colégio", enquanto eu olhava-te assustava pois não conseguia compreender quanta extroversão cabia em uma só pessoa. Realmente éramos mesmo o oposto um do outro, mas você até que se divertia com isso.
    O pessoal da escola achava-nos estranhos dois juntos. Principalmente aquele grupinho de meninas inseparáveis que se chamam de melhores amigas, mas na verdade, por trás, uma odeia a outra. Não houve uma pessoa que não nos julgou. Eu mesma julguei. Pessoas geralmente são aptas a fazerem amizade com quem lhe é familiar, isso é comprovado cientificamente, e toda vez que eu falava isso para você, ou qualquer outro assunto que lia na Superinteressante, você me chamava de nerd e chacoalhava meu cabelo de forma engraçada. Éramos os melhores amigos do mundo.
    Uma vez quando chorei no seu ombro, ofendida com um comentário maldoso que escutei, você me abraçou e disse que sempre iria me proteger. Outra vez me pegou no colo como princesa da Disney em final de filme no meio do corredor da escola antes da aula começar, e me virava de um lado para o outro, fingindo que iria me derrubar. Eu morri de mesmo, mesmo confiando em você, nunca sabemos quando vamos cair. Então o tempo foi passando, e mais pessoas você conheceu. Pessoas mais bonitas e interessantes.
    Um dia em seu campeonato de skate, fiquei na torcida, do lado oposto da arquibancada onde haviam algumas meninas torcendo também por você. Queria derrubar uma a uma dali de cima. Pouco antes de chegar sua vez, fui desejar boa sorte e acabei ganhando um beijo. Meu primeiro beijo em você, meu primeiro beijo em toda a vida. Fiquei envergonhada, vermelha e sorri. Passei o tempo todo imaginando o quanto você era legal e que poderíamos ser muito mais que amigos. Logo que você ganhou, e todas aquelas garotas foram lá te bajular, vi que cada uma ganhou um agrado especial, e fui embora irritada sem querer te ouvir.
    Fomos nos distanciando pouco a pouco. Infelizmente seu pai recebeu uma transferência e você foi embora para Florianópolis. Te vi apenas uma vez quando foi visitar sua tia que morava no quarteirão de baixo no ano passado. Dissemos oi de longe e eu só me arrependi mais pela minha compulsividade e falta de comunicação. Agora estou estudando para minhas provas do primeiro ano de faculdade, esperando um dia te encontrar de novo por aí. Aqui na república não há nada de brincadeiras, nada de mordidas, nada de você, apenas chuva.


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