segunda-feira, novembro 26, 2012

Quem ama, late


    E hoje posso dizer que foi o dia mais triste da minha vida. Pior que brigas, términos e até mesmo divórcio. O dia que o céu ganhou uma nova estrela, que um novo anjo voou, foi o dia que minha Lady se foi.
    O que eu sei nesse momento é a dor de uma perda. Perder um animal, não é como um ente querido. Só a presença dele de ficar deitado ali no canto do sofá dormindo ou lambendo suas unhas faz uma falta inexplicável. Aliás, o amor que eles sentem por nós é algo que não há razão que explique. Um cachorro pode amá-lo sendo feio, bonito, rico ou pobre, e esse amor é tão grande, tão intenso, que os faz morrer tão cedo. É diferente de qualquer outro, um pouco fraternal, um pouco materno. É único. Só a festa que recebemos ao chegar em casa do trabalho ou escola é uma prova disso. Ninguém faz isso, nem nós mesmos quando o vemos.
    A Lady era assim, única, especial. Não tinha uma pessoa – do pet shop, clínica veterinária ou até mesmo visitas em casa – que não dizia “que menina boazinha, ela é um doce”. Na verdade estavam certos. Ela era anjinho que chorava apenas quando eu ou minha mãe chegava em casa. Não ligava para agulhas nem machucados, nem mesmo quando eu a cortei sem querer enquanto tosava seu pelo. Ela só queria amor, o tempo todo.
    Era boba e carente. Andava com o corpo meio torto desde pequena de tão desengonçada. Qualquer colar que eu colocasse em seu pescoço fazia-a ficar parada, imóvel, até eu tirar. Também era assim na hora de por coleira. A Lady odiava passear. Toda vez que eu dizia as palavras mágicas V-A-M-O-S-P-A-S-S-E-A-R, ela já se escondia debaixo da cama ou atrás do sofá. Era engraçado ver seu olhar medroso. Qualquer briga que escutava, ou quando me via chorando, já tremia todo o seu corpo e me olhava até eu mandar ela vir.
    Também era obediente, e como! Se seu limite no quintal era até tal grade, ela não passava dali até eu pegá-la no colo para passar do outro lado. Sozinha ensinei ela a sentar, deitar e coçar o olhinho, uma expressão que eu sempre dizia e, logo que escutava, ela deitava coçando seus olhos, fazendo charme, e depois virava de barriga para cima, me mostrando o quando ela linda.
    Infelizmente esse ano já não foi tão bom. Em maio fez uma cirurgia para tirar o útero. Estava com endometriose e mais dois dias entrava em óbito. Ela curou, e há quase dois meses percebi que a ração não acabava mais tão rápido. Como ela era muito peluda, não dava para ver que estava tão magra. Após a tosa, vi seu esqueleto e a pele. Nada de carne, nada de saúde, foi a gota d’água para levá-la fazer um exame de sangue. Para a tristeza da família que ela deixou, esbanjava notícia ruim. Doença do carrapato, problema crônica no rim, piora no rim, piora na anemia... Não acabava, já sabia que ia perder minha princesa, investindo quanto dinheiro fosse.
    Depois de todas as internações, sexta-feira o veterinário disse que não teria mais muito o que fazer, que a Lady já tava com a doença num estágio bem avançado, e escondeu ela de mim esse tempo todo para não me preocupar. O líquido que seu corpo soltava por causa do mau funcionamento do rim, já era um veneno, que estava acabando com seus órgãos. Na noite desse mesmo dia pude ver como ela já estava amuada. Sábado chegou e ela passou quase o dia todo deitada, levantando apenas para fazer suas necessidades. A comida tinha que ser forçada. Domingo foi o pior dia. Ela já não conseguia mais andar, estava fraca, muito mal. Tinha ataques de convulsão toda vez que urinava na própria caminha. Fiquei atrás dela o tempo todo, cuidando até o último momento. Foram no total 5 ataques, achei que não passaria daquela noite.
    Finalmente hoje de manhã ela ainda estava viva. Minha mãe me acordou para levá-la no veterinário, ele ia fazer eutanásia nela (sacrificar), é terrível, mas seria um pecado deixá-la vivendo daquele jeito. Quando peguei-a e puis no carro, só sabia chorar, a Lady sabia onde estava indo e para que. Me sentia um monstro e queria voltar para trás. No meio do caminho em meu colo ela teve outra convulsão, a pior. Começou a agonizar de dor e ofegar. Fiz carinho nela que estava com a cabeça jogada para trás. De repente não senti mais sua respiração e nem o coração, além das patas geladas. A LADY TINHA MORRIDO, no meu colo. Entrei correndo no veterinário sem ver que o chão estava todo sujo dos líquidos que o corpo dela eliminou. Olhei em seus olhos que estavam sem brilho, e o veterinário depois de consultar confirmou.
    Enterrei-a e me despedi, com um aperto no coração mas ao mesmo tempo feliz por ela não sofrer mais agora. Ela resistiu 72 horas. Sofreu todo esse tempo por mim, ela não queria me deixar, mas seu corpo não aguentava mais. Ela se foi levando toda aquela alegria que dava. Meus dias vão ser mais vazios agora, mas pelo menos ela está bem, isso é o que importa.
Lady (10/02/2003 - 26/11/2012)

8 comentários:

  1. Meu deuus!!
    Q dó! Sua cachorra era linda! Minha cachorrinha morreu engasgada com um caroço de maça! Foi o pior dia da minha vida!
    Mais acredite, com o tempo a tristeza vai se tornando uma lembrança! Vc só vai lembrar dela como uma linda cachorra, obediente, sofreu por 72h por vc! Ela n queria te deixar! :f :f

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  2. nossa eu chorei muito eu tenho 2 cachorrinha labradoras uma foi atropelada (mais sobreviveu graças a deus) mais só de pensar que eu poderia perde-la ja me dava um vazio tão grande eu meio que te entendo Sinto muito!!

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  3. Oi Ingrid. Chorei com seu depoimento. Pois vi minha história na sua. Tinho minha cachorrinha desde 1999. Minha primeira cachorrinha, ganhei quando tinha 4 anos para deixar da chupeta. E foi o melhor presente da minha vida, sem dúvida alguma. Quando entrei na casa para pegar ela, lembro como se fosse hoje, vi um ratinho(pinscher) bem pretinho com os olhos mais preto ainda, mas ainda o que a destacava era suas patinhas caramelo. Ela cabia na minha mão naquele momento, imagina o tamanho da minha princesa. Trouxe ela pra casa, e cuidei com minha própria vida em todos os anos que ela esteve comigo. Ela tomava leitinho na mamadeira veterinária, chorava muito para se vacinar e depois corria pro meu colo pra se proteger. Sempre foi muito chatinha, só comia determinada ração, mas compensação sempre foi muito gulosa. Sua comida preferida era Bolo de Chocolate com cobertura de Brigadeiro que eu fazia. Ela odiava tomar banho em casa, sempre ia pro petshop por os lacinhos, e sempre teve as roupas e os cobertores mais quentinhos no inverno. Ela me mordia no nariz porque sempre foi muito braba e eu a encomodava pra ver seus dentinhos. Mas a única que podia fazer carinho nela era a mãe dela, euzinha. Ela ficava ali extasiada, se lambia toda, me dava um banho, e quando queria carinho se jogava embaixo dos meus pés. Esperava na porta do meu quarto eu acordar e dar: Booooom dia preta!!! Esperava eu chegar do colégio pra dar uma lambida daquelas. Ela mordia meu namorado quando ele me beijava por ciumes. Uma fofa, sempre foi minha melhor amiga. E quando eu estava nas minhas pior condições quem esteve do meu lado foi ela, não sabendo o que fazer, mas eu sentia ela triste do meu lado, inclinando a cabecinha e grunindo. Isso já me confortava, só pra deixar a minha princesa da melhor forma possível. (tem mais)

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  4. (...) Quando ela completou 10 anos, suas condições já não eram as mesmas. Não consigo contar isso, sem derramar uma única lágrima. É inevitável. Ela teve um derrame e cegou os dois olhos. Ela se debatia inteira, agonizava. Olhava pra mim pedindo socorro. Eu estava sozinha em casa, não sabia o que eu fazia. Liguei ligeiro pro meu pai e ele veio me buscar, me levou no veterinário dela e depois de muitas examinadas, minha pequena recorreu aos exames também. Ela tinha diabete, problemas de coração, e era epilética. Todo o maior cuidado era pouco pra ela. Mas em outubro desse ano, minha pequena com 12 aninhos não andava mais, seus ossos estavam muito fraquinhos e se deixava ela andar sozinha ela não enxergava e batia a cabecinha nos lugares. Além de não saber comer ou beber. Eu fiquei do ladinho dela, cuidando dela, dando muito carinho. Mas ela chorava muito, e seus olhinhos começaram a infeccionar. Levamos ao veterinário determinadas vezes e ele não sabia mais o que fazer. Ela realmente não tinha mais como viver. Na primeira semana de novembro vi minha pequena nas piores condições, dormia com ela no colo pra ela não me abandonar. Achava que isso a protegia. Mas não! Ela também tinha seus ataques. O veterinário disse que a melhor opção para eu não sofrer mais era sacrificá-la. (...)

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  5. Decidimos sacrificá-la uma semana depois. Esta semana foi a pior da minha vida. Não deixei ela um minuto, eu já não comia mais. Sofri horrores! Um dia antes, no domingo, dormi com ela, chorei a noite toda, ela deitava no meu colinho se despedindo de mim e também chorava. Acordei no outro com meu namorado, chorando mais que todas aquelas semanas juntas. Levei ela pro veterinário, dei meu ultimo beijo de despedida e deixei ela na maca. Que dor! Ela deitou quietinha, gruniu, ele aplicou a injeção, e ela respirou forte, descansada e "dormiu". Meus dias não prestaram mais desde hoje, sinto uma vazio enorme e hoje ela é minha estrelinha também. Sei que eu vou ter ela de novo. Mas não sei como. Essas são as situações em que vivem as pessoas que amam demais, que sentem tudo pelos seus animaizinhos, que são melhores que muitas pessoas por aí. Por isso mesmo que hoje não me deixo negar que NUNCA ninguém vai ter a mínima graça em se chamar JADE!, nem se seu sobrenome foir AMOR ETERNO!

    (26-10-1999 / 11-11-12)

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  6. Heloisa eu imagino o que você passou, realmente é muito ruim isso e posso dizer com certeza que foi o pior dia da minha vida. Mas o importante é o quanto vc amou ela e mostrou que ao contrário de muitos outros cachorros por aí, ela nunca foi maltratada, abandonada... Ah, e outra, cachorros reencarnam muito rápido, essa é uma crença de espírita. Elas voltam sempre para nós mesmas. Logo você terá ela de volta, em outra forma ou sexo, mas será ela. Beijão ;**

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  7. Eu chorei..
    Eu não tenho cachorro, mas antes tive. E só de ver minha madrasta dando ele para uma amiga, me doeu muito.
    Espero que fique bem, mas... acho que vai ser difícil, eu sei, dói muito. Mas, pelo menos você não está vendo ela sofrendo mais, sabe que ela está bem, e segura.



    www.opininoesfemininas.blogspot.com

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  8. É isso mesmo que eu acho Ingrid. Obrigada pelo conselho, faço das suas palavras as minhas. E parabéns pelo blog e suas dicas, realmente é muito bem elaborado. Beijão :**

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