sábado, maio 04, 2013

Meu erro



    Não havia muito tempo desde a separação. Tudo que mais queria no mundo era você, todos sabiam disso, inclusive os idiotas dos seus amigos, cujo adoravam brincar com minha infelicidade, rir pelas minhas costas. Era condenada por ter me apaixonado, esse é o preço que pagamos por nos entregarmos. Tudo em vão.
    Era coincidência dizer que naquele mesmo dia tocou mil vezes na rádio nossa música. Ou talvez o destino também queria tirar uma com minha cara, afinal, quem liga? A voz do cantor, suave, parecia mais bonita. A letra mais melancólica, e o timbre mais profundo. Odeio chorar. Odeio mais ainda chorar por alguém que nesse momento estaria sorrindo. Mas foi inevitável evitar.
    Um dia prometeras que seria para sempre. Olha onde estamos agora. Veja que nem todas as palavras são verdadeiras, que tudo não passa de um jogo. Eu e você, não existe mais nós. Aliás, nunca existiu. Se me perguntasse nesse momento, com certeza eu mentiria, principalmente sobre meus sentimentos. Também seria falsa, e diria que nunca acreditei em você, nunca fui tola, nunca dormi abraçada com o próprio travesseiro tentando fingir ser você.
    Então me levanto do sofá e pego o álbum de fotos tiradas com aquela polaroide caríssima de sua mãe. Nossa preferida. Todas, tiradas uma a uma nos momentos mais importantes de nossa vida juntos. Minha formatura, nosso segundo beijo, sua festa de aniversário. Todas as cenas, passando uma a uma em minha mente como um filme antigo de cinema. Velho, preto e branco e esquecido.
    Finalmente encontro-te na rua depois de três anos. Está mudado, mais forte, mais adulto, sem aquela expressão jovial. Você me cumprimenta e eu aceno com a cabeça. Por fora uma firmeza, por dentro querendo desmoronar. É difícil ser mulher. Erguer a cabeça e fingir que está tudo bem em cima de um salto de dez centímetros. Você não faz nem ideia da dor que eu sentia no momento, e não era pelo sapato.
    Logo sua nova namorada chegou. Você apresentou-me a ela como uma amiga. Impossível lembrar disso sem sentir vontade de matar alguém, ou jogá-la de cima do Empire States. Ela encarou-me percebendo minha expressão. Fui educada, já que não teria você, não perderia minha índole. Na minha mente passavam mil besteiras e, junto delas, um pai nosso para me controlar. Fui embora olhando para trás esperando seu olhar. Decepção.
    Mais algum tempo encontrei alguém legal, capaz de fazer-me esquecer o por quê chorar vendo fotos velhas. A carreira também crescia e, um a um, meus sonhos se realizavam. Outro dia então nos vimos por acidente novamente. Você estava com a camisa que lhe dei cor azul bebê que, até então, você insistia que era ridícula. O que fazia com ela então? Você me olhou e seus olhos brilharam. Alegremente me cumprimentou e convidou-me para sentar. Você já estava casado, e esperando o primeiro filho. Fiquei contente pela primeira vez. Não pude evitar e também contei de minhas conquistas. Conversamos como amigos, igual no dia em que nos conhecemos.
    Finalmente quando fui embora estava feliz. Alguns minutos depois já havia até me esquecido do ocorrido, tinha muitas coisas da empresa para pensar. Dessa vez, eu não olhei para trás esperando seu olhar, já tinha superado meu erro.

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