quinta-feira, dezembro 13, 2012

Apenas secreto

    Era engraçado lembrar o jeito que te conheci, pois eu não lembro. Não que você seja insignificante na minha vida, é o contrário, mas por nossas mães serem tão amigas, te conheço desde que nasci, praticamente. A única coisa que sei é quando elas nos aproximaram pela primeira vez, ainda bebês, eu puxei seu cabelo, e você chorou!
    Alguns anos passaram e eu não te vi mais. Muito caseiro, gostava de ficar apenas em meu quarto brincando com os carrinhos preferidos e as pistas gigantes que montava. Meus pais até te convidavam para meus aniversários, porém eu nem te via. Você sabe, meninos e meninas até uma certa idade não se dão muito bem. Mas só até uma certa idade...
    Quando finalmente passamos a estudar juntos na mesma sala, na quarta série, eu te achava uma chata! Você ia cada dia com uma presilha diferente no seu longo cabelo loiro. Eram esquisitos também aqueles seus óculos gigantes que você passou a usar no final da oitava série. Os outros meninos tiravam sarro mas eu nem escutava, naquele dia havia acabado de me apaixonar por você. Posso confessar que foi assim que descobri minha atração por garotas nerds, ou pelo menos com cara.
    Lembro aquele dia que te encontrei na festa de máscaras da Dani, você não me reconheceu e eu te beijei. Depois quando revelei quem na verdade eu era, você achou engraçado, que era estranho beijar um "amigo". Ri para disfarçar mas não podia dizer o que sentia. Se amizade era o máximo que podíamos ter então não estragaria isso, e outra, não queria que você desconfiasse que aquele era meu primeiro beijo.
    O tempo foi passando e eu descobri que haviam outras meninas no mundo. "Galinha" é uma palavra forte para me definir, mas foi quase isso. Descobri que algumas meninas gostavam de mim, descobri que outras me achavam bonito. Queria me achar e sentir superior, até namorei outra garota, namorei firme, você lembra, mas por incrível que pareça era você que ainda visitava meus sonhos. Terminei e entrei numa espécie de abstinência, como se ninguém mais existisse além de você, e ela só aumentou quando soube que você queria me dar uma chance, mas desistiu por causa desse meu falso eu. Não é uma obsessão, mas eu apenas queria arrumar um jeito de chamar sua atenção.
    Logo no segundo semestre do terceiro ano, quando comecei a estudar muito para o vestibular, te enviei o primeiro bilhete. Todos com uma frase de música que gosto, aquelas estilo indie, ou rock leve, mas outras de estilo bem variado também. Percebi que você lia na sala de aula, logo depois que recebia, e ficava encantada. Por essas atitudes positivas achei divertido, e continuei mandando, achando que a qualquer hora você chegaria perguntando-me se era eu. Afinal, eu sentava atrás de você, e líamos todos os bilhetes juntos.
    Finalmente quando criei coragem de te contar a verdade, você começou a namorar. Então escrevi-te uma última carta, assinada com um ponto, como todas as outras, e enviei. Decidi continuar assim para você, apenas secreto.


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